São Paulo – 27/06/21
Investimentos em tecnologia e práticas sustentáveis de produção estão levando o produto a um novo patamar.
Diante do charmoso arábica, o café conilon sempre foi o “patinho feio” da cafeicultura brasileira. Relegado a um papel de coadjuvante, ele é usado para agregar peso ao protagonista ou como “blen d” em misturas dominadas pelo grão principal. Essa realidade, porém, ao que tudo indica começa a mudar.
Investimentos em tecnologia e práticas sustentáveis de produção estão levando o conilon a um novo patamar.
O “primo pobre” do arábica já ingressou na restrita categoria de cafés especiais, e sua principal área de produção, o Espírito Santo, acaba de receber o selo de Indicação Geográfica (IG). Para o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Celírio Inácio, esse é o melhor momento da longa trajetória da espécie no Brasil.
“Pela primeira vez o conilon entra na categoria de cafés especiais e com notas sensoriais muito elevadas. Esse conceito de que conilon só servia para ‘blendar ’ o café não é mais verdade.”
A mudança de patamar, segundo ele, é resultado do esforço de órgãos de pesquisa do governo, da indústria e das cooperativas e associações de produtores para melhorar a qualidade da espécie.
“Quando o produtor começou a tratar melhor o cafeeiro, colher no tempo certo e secar da forma correta, o conilon passou a mostrar qualidades que não eram identificadas e a ser reconhecido pelo mercado.”
PRODUTOR
Maior produtor mundial, o Brasil cultiva duas espécies de café, o arábica e o robusta, do qual o conilon é a principal variedade. Em 2020, o país produziu 63 milhões de sacas (de 60 quilos), sendo 14,3 milhões do conilon, que produz 30% mais, porém é vendido a preços até 40% mais baixos.
Neste ano, mesmo com a bienalidade – o cafeeiro carrega em um ano, em outro não –, a variedade deve produzir até 15,5 milhões de sacas, compensando parte da queda de 31,5% prevista para o arábica.
“É um café cada vez mais valorizado aqui e no exterior e só não exportamos mais porque o mercado brasileiro consome quase toda a produção. O setor industrial já percebeu que o conilon não é mais o ‘patinho feio’”, disse Inácio.
ESPÍRITO SANTO RESPONDE POR 66% DA PRODUÇÃO NACIONAL
Em 11 de maio, o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) concedeu o selo IG, de Identidade Geográfica, para o café conilon produzido em todo o Espírito Santo. Do Estado saem 10 milhões de sacas, respondendo por 66% da produção nacional.
“A conquista inédita promove o protagonismo do Estado e torna o café conilon reconhecido nacional e internacionalmente”, disse o presidente do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Abraão Carlos Verdin.
O grão é cultivado também em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Rondônia.
Luiz Claudio de Souza, de Muqui, é um exemplo da mudança no conceito do conilon. “As portas estão se abrindo”. Em seu Sítio Grãos de Ouro, Luiz Claudio mantém com os filhos uma lavoura pequena, mas de excelência. São 12 mil cafeeiros de conilon, cultivados em 30 mil metros quadrados a 550 metros de altitude.
A melhora na qualidade levou a Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) a romper uma tradição. Até recentemente, apenas o arábica podia ser classificado como café especial.
“Há cinco anos iniciamos um trabalho de redefinição do que é um café especial e, em consulta aos filiados, não se falou em exclusividade para o arábica. Fomos atrás e descobrimos cafés conilon fantásticos”, conta a dirigente Vanusia Nogueira.
A BSCA já emitiu laudos de qualidade para o conilon da Nescafé, do grupo Nestlé, e, em abril, deu o primeiro certificado para uma propriedade, a Fazenda Venturim, em São Domingos do Norte. A certificação leva em conta as boas práticas, a sustentabilidade socioambiental e a qualidade como bebida.