Verônica Aguiar – A Tribuna – 13/12/20
O espaço no mercado de trabalho vem sendo conquistado pelo público feminino em uma luta constante.
Contudo, em algumas áreas, empresários têm dificuldade para contratar mulheres. Entre elas estão mecânica, Tecnologia da Informação (TI), engenharia, logística e o setor automotivo. A técnica em Eletrônica Irisnei de Ornelas de Souza, 46, conserta TV, micro-ondas, panela elétrica, secador, ventilador, entre outros. Muitos consumidores ficam surpresos de ela ter o conhecimento para fazer o que faz. “Em pleno século XXI, ainda acham curioso”, contou rindo. Ela atende tanto homens quanto mulheres, mas muitas clientes revelam se sentir mais à vontade com ela.
“Quando vou trocar uma peça, mostro para elas, explico o que terei que fazer e o motivo. Porque o cliente já chega machucado, de outras experiências, de gente que trocou uma peça nova por uma usada, que disse que um problema simples era mais complexo para cobrar mais caro”, revelou. Ela, que mantém as unhas grandes e usa batom vermelho para realçar o sorriso, tem uma loja onde recebe os produtos para consertar e vende outros. “No começo era eu e meu ex-marido. A gente separou. Aí continuei na loja”. Moradora da Serra, ela atende mais por indicação. “Já atendi a cliente de Linhares. Até da Bahia já veio gente trazer TV para eu consertar”.
A operadora de loja Renata de Azevedo Silva, 42, é cliente. “Ela passa segurança. Infelizmente, tem muita gente desonesta nesse mundo. E ela sabe as dificuldades que uma mãe solteira enfrenta, de não ter ninguém para ajudar, de uma situação financeira difícil”. A consultora de empreendedores Sandra Mara Selleste explicou que a mulher, às vezes, quando entra nesses setores diferentes geralmente vai puxada por algum relacionamento amoroso. “Entra para ajudar o marido e acaba se tornando a líder do negócio”.
Ela destacou que a mulher geralmente empreende por necessidade. “Vem aquela questão estrutural da sociedade em que as meninas acabam sendo incentivadas a cuidar de crianças, a cozinhar. E elas acabam usando essas habilidades para montar um negócio rápido”. E destacou que a mulher precisa quebrar muitas barreiras para entrar em áreas como construção civil, engenharia, logística. “Às vezes, até barreiras internas, por achar que não é capaz”.
PAIS DEVEM MUDAR FORMA DE INCENTIVO, DIZ CONSULTORA
As meninas brincam com bonecas e panelinhas preparando comidinhas, enquanto os meninos brincam com carros e aviões. É dessa forma automática, que a sociedade acaba incentivando que as meninas desenvolvam habilidades de cuidar de crianças, de cozinhar e não ampliem seus olhares para o imenso leque de profissões disponíveis.
A consultora de empreendedores Sandra Mara Selleste destacou que a menina, na infância é chamada de princesa, que é a dona do castelo. Ela não sabe, por exemplo, que pode ser a responsável pela logística do castelo. “A gente acaba incentivando o mesmo comportamento que faz com que as meninas desenvolvam as mesmas habilidades e não apostem em outros setores”, destacou.
E segundo ela, para haver uma transformação é necessário um olhar mais amplo dos pais. “A mudança começa com o incentivo dos pais, com uma ampliação de visão em relação às possibilidades de atuação profissional que as filhas possam ter”.