Verônica Aguiar – A Tribuna – 25/10/20
Em busca de reforçar a renda em meio à crise, muitos apostaram na afinidade e fizeram do passatempo a criação de uma nova empresa
Apalavra trabalho vem do latim “tripalium”, um instrumento de tortura. Ela não faz muito sentido para quem tem uma ocupação da qual gosta. Afinal, como disse o filósofo Confúcio, “escolha um trabalho que ama e nunca terá que trabalhar um dia sequer na vida”. No Estado, 16 mil pessoas transformaram um hobby em negócio este ano. Das 55.838 novas empresas que nasceram no Espírito Santo de janeiro a setembro, de acordo o Sebrae, 30% foram baseadas na afinidade do empreendedor.
Muitas vezes, no modo automático, o ser humano trabalha naquilo que tem oportunidade. Com a pandemia, vários profissionais levaram um empurrão para fora da zona de conforto. Demitidos, tiveram de se redescobrir. Para alguns, foi a chance de se reconectar com aquilo que gostam de fazer. Para outros, a pandemia impulsionou o sonho do próprio negócio e criou a chance de deixar o emprego para se dedicar a ele.
Esse foi o caso da bióloga Evelyn Moreira Barcelos, 31. Ela trabalhava em um pet shop e pediu demissão para apostar no seu lado empreendedora. Tudo começou quando ela ainda era empregada. Depois do expediente, chegava em casa e fazia acessórios para os cinco cães e dois gatos que tem em casa, dela e da mãe. Uma rede social dela se transformou em uma vitrine e surgiram as encomendas. “No final do ano passado pedi demissão. Eu já tinha máquina de costura e comecei a fazer os produtos em maior escala”, detalhou.
Ela começou com acessórios e revelou que desde o início sempre pensava em como melhorar a qualidade de vida dos pets e tutores e foi agregando itens. Entre eles estão brinquedos de corda, caminhas, colchonetes, jogo americano, tapete interativo e roupinhas. Ela vai lançar coleiras e guias. “Eu mesma faço tudo à mão”. Este ano veio a grande virada e ela passou a vender para pet shops os produtos que faz.
O consultor de empresas Glaucio Siqueira explicou que há mais chance de ganhar dinheiro fazendo o que gosta, devido à satisfação e motivação. “Mas antes de começar, é preciso avaliar: o consumidor precisa daquilo que eu gosto de fazer? Se sim, está disposto a pagar? Além disso é necessário traçar um plano de negócios”.
FAMÍLIA TEM DE ESTAR INSERIDA NO PROJETO, DIZ ESPECIALISTA
Empreender, principalmente no meio de uma pandemia, não é tarefa fácil. A especialista em pessoas e carreiras Gisélia Freitas calcula que a maioria dos negócios que surgiu a partir de hobbys estão sendo desenvolvidos dentro de casa, por mulheres. “Isso está criando conflitos. Às vezes o marido sabota, reclama do uso do espaço, da sujeira que a atividade provoca. Tem que ter uma parceria. A família tem que estar inserida no projeto”.
Ela destacou que antes de dar início à atividade, é preciso conversar com a família. O empreendedorismo por necessidade vem crescendo, conforme o consultor de carreiras Elias Gomes. “Muitos estão empreendendo porque precisam, mesmo sem preparo ou perfil. O que faz com que a chance de resultados positivos sejam menores. Outros estavam com medo e foram empreender com medo mesmo e podem descobrir competências e habilidades para obter o resultado necessário”.
O consultor de empresas Glaucio Siqueira lembrou que para quem gosta do que faz é mais fácil aguardar o tempo para que o resultado aconteça
TER UM PLANO DE NEGÓCIOS É ESSENCIAL
EMPREENDEDORISMO
>O EMPREENDEDOR é aquele que sabe identificar oportunidades no mercado, seja para criar um negócio ou melhorar aqueles que já existem, por meio de ideias criativas e inovadoras. De acordo com o Sebrae, há 10 comportamentos de um empreendedor de sucesso. São eles:
>BUSCA DE OPORTUNIDADES e iniciativa; persistência; correr riscos calculados; exigência de qualidade e eficiência; comprometimento; busca de informações; estabelecimento de metas; planejamento e monitoramento sistemáticos; persuasão e rede de contatos e independência e autoconfiança.
PLANO DE NEGÓCIOS
>ANTES DE COLOCAR um negócio em prática é preciso fazer um plano de negócios. É por meio dele que se estuda o mercado, a viabilidade econômica e financeira e o prazo de retorno do empreendimento. Principais dificuldades
>SÃO VÁRIOS os desafios enfrentados por um empreendedor. Entre eles estão a gestão de pessoas e gestão financeira.
>DE ACORDO com o Sebrae, não conhecer a concorrência e os diferenciais de seus produtos ou serviços são alguns dos erros mais comuns em empresas que trazem poucos resultados .
GOSTO PELO QUE SE FAZ
>GOSTAR DO QUE FAZ é uma injeção de motivação, que torna a atividade mais leve e prazerosa. Contudo, não é o suficiente para garantir um negócio de sucesso.
>É NECESSÁRIO planejamento, estudo, dedicação para transformar uma ideia em um negócio de sucesso.
>ALÉM DISSO, é preciso resiliência, pois é necessário, em média, três anos para que o negócio chegue ao primeiro nível de estabilidade e cinco para que ele comece a dar lucro.
>CONTUDO, especialistas apontam que, quando se gosta do que se faz, a chance de ter um melhor retorno financeiro é maior.
Fonte: Sebrae, Glaucio Siqueira e Gisélia Freitas